Tuesday, December 21, 2010

Tim Burton, "Pincushion Queen"

The Pincushion Queen

Life isn't easy
for the Pin Cushion Queen.
When she sits alone on her throne
Pins push through her spleen.


O livro de poemas de Tim Burton já tem uns tantos anos. Um dia, me dei conta de que a pincushion queen era uma espécie de fantasminha doméstico - do soberano melancólico do barroco.

Deixo-vos por ora, amigos; vou passear. Cuidemos os melancólicos para que os alfinetes não nos preguem à cadeira.

Sunday, December 12, 2010

Bazar "As meninas"

Num sobradinho perto da estação Sumaré do metrô...

Havia um moço super sorridente na porta,

móbiles,
bonecos (Juliana Bollini), almofadas de linho bordadas e coisas afins (Aurélia Pichoun),

carteiras (não achei o site...), figuras de arame (Ana Moraes), a cerâmica da Cynthia Gavião,

e as jóias da Áurea (o nome é o destino?).


Foi uma parada delicada antes do caos ardente (bom, escaldante) do último dia da Bienal de São Paulo, que eu não tenho fôlego agora para postar.

Saturday, December 11, 2010

A incrível língua brasileira

Bezerra: Ei-la. Figuradamente é "maior que o normal", surpreendentemente grande. "Que bezerra de colher" = que colher grande!


Poita: originalmente, sinônimo de âncora. Quando aplicado a seres vivos, quer dizer gordo. "Meu cachorro tá uma poita"; "que poita" = o cachorro está gordo (pesado como uma âncora).


Sô: é como "meu" em São Paulo. Pra quem não sabe, vem de senhor (sinhô, sô). "Qué isso, sô?" = "O que é isso, meu/cara/homem?" O feminino é "sá", que vem de senhora, sinhá, mas em Minas o povo chama homens e mulheres de sô. Ah, a imagem acima é um retrato de Monteiro Lobato.

Friday, December 10, 2010

Água de beber???

Segundo essa matéria, de janeiro até novembro 57 toneladas de lixo foram retiradas da Guarapiranga, represa que abastece a cidade de São Paulo. E é uma matéria da rede Globo que diz que não adianta botar a culpa nos aterros clandestinos.

Alguém um dia disse que a prova de que a nossa espécie está fadada ao fracasso é que ela é a única que caga na água que vai beber. Na verdade, o argumento é ainda mais cabal, também jogamos venenos de toda sorte e bastante lixo, e depois gastamos muito muito dinheiro para limpar a água. E quem consegue acreditar que essa água "reformada" tem as mesmas propriedades da água realmente natural - e também que não tem nada que não devia ter?

Será que as pessoas só vão acordar para o problema quando o governo resolver que é caro demais tratar a água e recolher o lixo, privatizar tudo isso pra valer (porque a coleta já é terceirizada) e as empresas começarem a cobrar beeem caro???

Cada coisa a seu tempo: dezembro

Frutas: abacaxi (pérola e havaí), ameixa, amêndoa, avelã, banana prata, castanha, cereja importada (existe nacional?), coco verde, damasco estrangeiro (idem?), figo, framboesa, graviola (nunca comi!), kiwi, laranja pera (mas essa só entra em recesso de abril a julho), lichia, limão, várias maçãs, manga (ainda, que delícia), maracujá, melancia, melão amarelo, nectarina, nozes, pêssego, romã e uvas itália, niágara e rubi. Ou seja, verão é pra comer fruta. E fazer estoque de frutas secas. Acho que depois do Natal elas caem de preço.

Legumes: alho porró (abundante noutras épocas também), abobrinha brasileira, beterraba e cenoura (que são bem abundantes), fim da estação do cogumelo, que rareia nos quatro primeiros meses do ano, todos os pimentões, tomate e vagem macarrão.

Verduras: aspargo, cebolinha, couve de bruxelas, endívia, gobo (hm...), hortelã, orégano, rúcula, salsa e salsão.

Outros: batata e cebola nacionais.

Peixes: bonito, dourada e dourado, manjuba, meca, mexilhão, ostra, salmão e truta (hm...).

Fonte: ig comida, que se baseia no site do Ceagesp.

Thursday, December 9, 2010

Ilha do Mangabal

A coisa mais bonita que vi na ilha dessa vez era "infotografável", pelo menos pra mim. Chegamos à noite e vimos uns brilhos atravessando a estrada. Com os faróis apagados, deu pra ver direito: milhares de vagalumes saindo da terra, o pasto dos dois lados cintilando por quilômetros.

A coisa mais aventurosa foi, na verdade, uma bobagem de gente de cidade que vai pro mato. Estava andando no pasto e ouvi e depois vi um monte de bois correndo pro nosso lado. Pensei, pronto, agora eu é que vou virar hamburguer! Logo - por que será? - me esclareceram que não havia perigo. Os bois ficam curiosos, ou acham que a gente vai por sal no cocho, ou algo assim. Chegam perto, mas não fazem nada, e se assustam com qualquer grito ou movimento mais brusco.


Wednesday, December 8, 2010

"Os prazeres e desprazeres do trabalho", Alain de Botton (spoiler!)

Segundo o autor nos informa na introdução, a inspiração do livro veio da seguinte percepção: as pessoas são inteiramente ignorantes das operações de extração/cultivo/produção, persuasão/concepção, transporte e distribuição por meio das quais se alimentam, vestem, etc. etc., em suma, suprem suas necessidades mais básicas e outras, nem tão básicas nem tão suas.

E o livro é sobre o trabalho. Curioso, não? Ao se perguntar sobre o que as pessoas mais solenemente ignoram - a introdução pergunta porque não se sabe onde são os portos, não se admiram os cargueiros, não se celebra a chegada da comida e de tudo de que dependemos ou desejamos - o autor encontra o trabalho, aquele assunto em que cada qual investe tanto do precioso tempo da vida, aquele mesmo assunto do qual, quando concerne ao outro, ninguém quer saber.

Seguem-se capítulos de interessantíssimas descrições. De onde vem a lata de atum? Vamos lá ver, diz o autor. E vai para um arquipélago distante, república das bananas, ser humilhado pela burocracia para poder embarcar num barquinho pesqueiro e ver os nativos matando os atuns gigantescos a porretadas; vai à fábrica de latinhas, não vai junto com elas no cargueiro, mas vai sim ao supermercado londrino onde a mãe exaurida compra uma latinha e vai à casa dela, jantar com a família e ouvir a opinião das crianças sobre a refeição.

Grandes intelectuais que me desculpem, tudo bem, isso não é um livro de filosofia no mesmo sentido em que o Tractatus é, mas é um livro de filosofia, sim. Tanto mais quanto menos se aceita a tese geral, que o autor procura formular no fim, pelo seu valor de face.

Porque ele simplesmente dá o passo devido, abstrai uma descrição geral do processo de alienação que tão brilhante e diligentemente descreveu: "é difícil lembrar da morte quando há trabalho a ser feito: ela não deixa tanto de parecer um tabu quanto de parecer improvável. Por sua natureza, o trabalho nos permite fazer tudo menos levá-la muito a sério. Ele destrói nosso senso de perspectiva e deveríamos agradecer-lhe precisamente por essa razão, por permitir que nos misturemos promiscuamente aos eventos, por nos deixar suportar o pensamento da nossa própria morte e da destruição de nossos empreendimentos com uma bela leveza, como meras proposições intelectuais, enquanto viajamos para Paris para vender óleo de máquina. Funcionamos com base numa necessária miopia. Daí a pura energia da existência, a vontade cega mas não menos impressionante com que vemos uma mariposa entrar a custo pelo beiral da janela, contornando uma bolha seca de tinta resultante de uma pincelada apressada demais, recusando-se a contemplar o esquema mais geral no qual ela estará morta ao anoitecer.

Os argumentos de nossa trivialidade e vulnerabilidade são óbvios demais, conhecidos demais e tediosos demais para repetir. O que é interessante é que possamos assumir tarefas com a mais extrema determinação e seriedade mesmo quando sua falta de sentido mais amplo é clara. O impulso para exagerar a significação do que estamos fazendo, longe de ser um erro intelectual, é de fato a própria vida que nos atravessa. A boa saúde nos encoraja a nos identificar com todas as experiências humanas em todos os lugares, a suspirar diante de um assassinato num país distante, a ter esperanças pelo crescimento econômico e o progresso tecnológico para muito além do que esperamos viver, esquecendo-nos de que não estamos nunca a mais que um grupinho de células degeneradas da morte.

Ver-nos como o centro do universo e o tempo presente como o ápice da História, encarar nossa próxima reunião como de importância crucial, negligenciar a lição dos cemitérios, ler apenas o que interessa, sentir a pressão dos prazos, provocar colegas, atravessar programações de conferências que dizem '11h às 11h15: coffee break', comportar-se irrefletida e gananciosamente e daí incendiar-se na batalha - tudo isso talvez seja, no fim, sabedoria operante [working wisdom]. Preparar-se com sábias prescrições para a morte é respeitá-la demais. Deixemos que ela venha enquanto estamos transportando polpa de celulose de navio pelo mar Báltico, removendo cabeças de atum, desenvolvendo um tipo nojento de bolacha, aconselhando um cliente sobre uma mudança de carreira, lançando um satélite com que seduzir uma geração de menininhas japonesas, pintando um carvalho no campo, instalando uma linha de transmissão elétrica, fazendo a contabilidade, inventando um frasco de desodorante o fazendo um tubo enrolado de resistência aumentado para um avião. Deixemos que a morte nos encontre enquanto estivermos protestando contra suas ondas com nossos palitos de fósforo.

Se pudéssemos testemunhar o inevitável destino de todos os nossos projetos, não teríamos outra opção senão sucumbir à paralisia imediata. Qualquer um que tivesse assistido a partida dos exércitos de Xerxes para conquistar os gregos, ou Taj Chan Ahk ordenando a construção dos templos dourados de Cancuén, ou os administradores coloniais britânicos inaugurando o sistema postal indiano teria tido coragem de informar esses atores apaixonados do inevitável destino de seus esforços?

Nosso trabalho pelo menos nos terá distraído, terá nos provido com uma bolha perfeita na qual investir nossas esperanças de perfeição, terá focado nossas imensuráveis ansiedades numa escala relativamente pequena e objetivos atingíveis, terá nos dado uma sensação de domínio, terá nos tornado respeitavelmente cansados, terá posto comida na mesa. Terá nos salvo de problemas maiores". (tradução selvagem do texto em inglês, que é o que eu tenho aqui, mas já tem tradução para o português)

É assim que o livro acaba. Tendo começado pela alienação - sem nomeá-la - e feito uma descrição às vezes impiedosa, às vezes terna (dos sujeitos), termina pelo seu elogio. Mas só porque, isso fica bem claro, não há qualquer outra esperança. Mesmo o sentido de desafio que aparece lá no começo (preparar-se para a morte é respeitá-la demais) no fim se torna o gesto do cachorro de que põe o rabo entre as pernas (o trabalho no fim nos terá salvo de problema maior). Não existe afinal qualquer distinção entre as ocupações: são todas tentativas de esquecer a morte, todas decorrem portanto de um instinto, do desejo de não morrer, e nesse sentido todas são válidas, ainda que destruam a própria vida (do sujeito, dos outros, do planeta) ao tentar proteger a ilusão de sua eternidade.

O interessante é que aparecem duas coisas: a primeira, que todo desejo frenético investido no consumo, a festa do gozo eterno, etc. é na verdade apenas a máscara brilhante do medo (da morte) que cai no trabalho. Esse gozo compulsivo é o avesso da morte instalada na alma, do medo.

A segunda coisa interessante é que a reflexão fica curiosamente retorcida quando se propõe justificar a alienação. Uma coisa é ver que todo gesto humano radica no instinto, outra, é fazer o elogio, ainda que irônico, da alienação. O livro é todo um documento da fragilidade e da monstruosidade do trabalho, ele é o avesso da alienação. Uma vez enunciada a finitude, como anulá-la? Como dizer: lembre disso para saber porque você deve esquecê-lo?

O leitor pode de fato realizar essa performance? Que feche o livro e dê um suspiro e diga, sim, é isso aí, de volta ao trabalho, não há porque reclamar, porque se não fosse o trabalho eu me veria frente a frente com a morte - é possível? Porque se o leitor realizar a proeza que o autor tão candidamente propõe, é um imbecil. Então das duas, uma: ou o autor é um deprimido e a tese é um sintoma do qual gozarão todos os outros deprimidos (ou com que se instruirá quem quiser), ou o autor está sacudindo (agredindo) o leitor - no que temos que apoiá-lo. Ou as duas coisas.

Wednesday, December 1, 2010

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 8

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 7

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 6

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 5

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 4

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 3

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 2

Maria Rita Kehl, depressão como sintoma social, parte 1