Friday, April 22, 2011

Poluição do ar em São Paulo

Nessas últimas duas semanas tive a sensação de que o ar estava irrespirável. Bom, acho que estava mesmo. Só uma observação: quem usa transporte público em São Paulo sabe que a maioria que opta pelo carro não o faz por uma tara egoísta.
Da Folha. Link pra matéria original, aqui.
20/04/2011 - 16h27

Emissões de gases do efeito estufa crescem 58% em SP

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

As emissões de gases de efeito estufa no Estado de São Paulo cresceram 58%, entre 1990 e 2008, considerando as emissões de um dos principais gases, o CO2 (dióxido de carbono).

Veja o inventário completo

Os dados constam do primeiro inventário estadual de emissões antrópicas de gases de efeito estufa, apresentado na manhã desta quarta-feira pela Cetesb (Companhia Ambiental do Esatdo de São Paulo).

Além do CO2, o inventário também estima as emissões de gases como CH4 (metano), N2O (óxido nitroso), HFC (hidrofluorcarbonos), PFC (perfluorcarbonos) e SF6(hexafluoreto de enxofre). Também foram incluídas informações sobre as emissões antrópicas de gases que influenciam as reações químicas que ocorrem na atmosfera.

O levantamento somou as emissões de cinco grandes áreas do Estado.

O setor energético é o maior poluidor. Ele contribui com 57,2% das emissões. Todo tipo de transporte, por exemplo, está inserido nesta conta.

Agropecuária (21,3%), Indústria (14,7%) e Lixo (6,7%) também sujam a atmosfera do Estado.

O setor de uso e ocupação do solo é o único que retirou gases da atmosfera em vez de emitir. Isso ocorreu, principalmente, por causa das chamadas floresta plantadas (pinus e eucalipto) e não pelo renascimento da matas originais do Estado.

Emissões de gases do efeito estufa em 2005
São PauloBrasil
SetorEmissão (em massa equivalente de CO2)ParticipaçãoEmissão (em massa equivalente de CO2)Participação
Energia80.01757,2%328.80815%
Indústria20.61014,7%77.9393,6%
Agropecuária29.81821,3%415.75419%
Resíduo9.3666,7%41.0481,9%
Ocupação do solo00%1.329.05360,6%
Total139.811100%2.192.602100%
Fonte: Cetesb

O inventário estadual mostra grandes diferenças em relação ao cenário nacional. No Brasil, o desmatamento da Amazônia (uso e ocupação do solo) é o grande vilão. Enquanto em São Paulo, esse título vai para o setor energético.



E ontem saiu essa, que copiei deste blog:


Veículos leves poluem mais que a indústria em SP

Inventário do governo aponta participação de vários setores na poluição

Estudo ambiental mostra obstáculos para o Estado conseguir reduzir emissão de gases em 20% até 2020

EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO

A emissão de gases de efeito estufa dos carros, utilitários e motos que rodam pelas ruas paulistas é maior do que toda a poluição do ar provocada pelo setor industrial.
O primeiro inventário do Estado sobre poluentes gerados pelo homem, divulgado ontem pelo governo, revela o quanto é gigantesco o peso do setor de transportes nas emissões de gases tóxicos que contribuem para o aumento do efeito estufa.
Somados, carros, utilitários e motos jogaram 14,1 milhões de toneladas de gases de efeito estufa nos céus das cidades paulistas. Sem contar os ônibus e caminhões.
Toda a indústria do Estado, de acordo com números medidos em 2008, poluiu a atmosfera com 13,4 milhões de toneladas de gases -o dióxido de carbono é o gás que mais contribui para o aquecimento global.
O inventário registra também um crescimento de 58% nas emissões. Variação aferida entre 1990 e 2008.
Como o grande vilão é o setor de transporte, principalmente o rodoviário e o aéreo, tanto especialistas independentes quanto técnicos do governo do Estado são unânimes em afirmar que, sem medidas contundentes contra o uso do carro ou que diminuam a queima de combustíveis fósseis (gasolina e diesel), será impossível São Paulo atingir sua meta legal de redução.
Pela lei em vigor desde 2009, o Estado tem até 2020 para reduzir em 17,8 milhões suas emissões gerais -20% das emissões globais medidas em 2005, segundo diz a legislação específica.
A meta era antiga, mas apenas ontem se soube quanto será preciso reduzir.
"São Paulo teria que trocar toda a gasolina usada pelos carros por etanol para atingir a meta", diz em tom hipotético João Alves, coordenador do Proclima, programa estatal criado em 1995.
Para Bruno Covas (PSDB), secretário estadual de Meio Ambiente, outra linha de ação terá que ser na troca de parte da matriz energética.
"Temos de estimular a energia eólica, por exemplo. Na área de transportes, investir em metrô, ferrovias."

Saturday, April 16, 2011

The century of the self, parte 1: "Máquinas de felicidade", com legendas em português

Documentário de Adam Curtis, produzido pela BBC e lançado em 2002. Artigo da Wikipedia que dá uma boa visão geral, aqui. Página da BBC sobre o documentário, aqui. Vou acrescentar as outras partes desta primeira, e o que conseguir anotar dos deslizes de legendagem nos próximos dias (semanas?).


00:04 Uma nova teoria foi proposta (ao invés de "divulgada")
01:24 daí viria uma nova ideia política sobre como... (não "idealização")
01:38 Foi o começo do "self" que tudo consome (all-consuming é mais forte que "consumista", significa não só que o self compra, mas que "devora" tudo, como quando dizemos que o fogo consumiu um edifício)
03:12 faltou na fala de Karolyi: e claro, você simplesmente não podia mostrar os seus malditos sentimentos...
04:14 de que havia perigosos impulsos instintivos (ou instintuais) ocultos dentro de todos os seres humanos
04:23 analisando sonhos e livres associações ele havia descoberto (literalmente desenterrado), dizia...
05:18 o mais triste, ele escreve, é que é exatamente assim que esperaríamos que as pessoas se comportassem...
06:24 comitê de informação pública (ao invés de "divulgação")
06:42 tanto em casa quanto no estrangeiro (ao invés de "além")
06:58 eles me pediram (não "ele")
07:13 eu estive em Paris durante todo o período da Conferência de Paz (não "em tempo integral")
08:01 eu decidi (não "pensei")
08:15 porque os alemães a tinham usado
08:46 os EUA tinham se tornado
08:48 milhões aglomerados nas cidades
09:49 de que você tinha de procurar coisas que...
09:58 e da maioria dos funcionários do governo...
10:22 tabu contra as mulheres fumarem

O tal Bernays é draculesco.





Update: desisti de assinalar as imprecisões de legendagem. Me dei conta de que o documentário completo tem mais de quatro horas...

Sunday, April 10, 2011

Manteiga caseira


Não, eu não fiz. Mas como a manteiga foi um assunto esses dias, fiquei surpresa com a coincidência: uma das "colunistas" do Design Sponge escreveu um post detalhado sobre como fazer manteiga em casa. Parece bom, né?

Saturday, April 9, 2011

De volta. Michael Pollan, "Em defesa da comida"

Depois de um longo e tenebroso verão, que inclui uma mudança de endereço e uma briga desigual com um roteador wireless - ele venceu, óbvio - estamos aqui.

Eis que uma das coisas bacanas que me aconteceu em meio ao caos foi esse livro aqui:

Há um trecho aqui.

Ele tem a ver com o "Food Inc.", em que o autor é entrevistado várias vezes. Na verdade, me parece que o primeiro capítulo traz o que parece ser a tese do filme: que as coisas andam mal, mas que cada vez que a gente compra um item "do bem" no supermercado, dá um voto a favor de uma outra maneira de produzir alimentos e tratar o meio ambiente e as pessoas envolvidas na produção dos alimentos. Acontece que no filme a coisa meio que fica por aí, a despeito de vários "personagens" dizerem coisas que desmentem a tese. No livro, Pollan escreve várias vezes que nem todo mundo tem o dinheiro necessário para votar nessa eleição...

Mas vamos ao livro.

Nossa alimentação, a alimentação contemporânea das populações urbanas, teria sido moldada por uma ciência da nutrição (mais um ensaio ou arremedo de ciência), uma indústria produtora de alimentos (fazendas de grãos, vegetais e animais), uma indústria transformadora desses alimentos e o Estado, que entra como um restritor dos direitos dessas duas últimas, informado pela primeira (que basicamente sempre disse para o governo que a indústria podia fazer o que queria).

A manobra científica, que o livro descreve clara e convincentemente como ideológica, legitimadora da indústria, é reduzir conceitualmente os alimentos a seus nutrientes conhecidos.

A redução ou abstração que dá origem ao conceito e cria o objeto da ciência ensina, explica e legitima a redução real da coisa. A violência contra a coisa, sejamos claros.

O exemplo primeiro aí é a margarina, que passou de imitação de manteiga (o governo obrigava a indústria a avisar isso ao consumidor) a um alimento pretensamente autêntico (o governo parou de obrigar a indústria a avisar porque a ciência da nutrição disse que a margarina tinha tudo que a manteiga tinha e portanto não era uma imitação), e finalmente a algo mais que um alimento autêntico, a um substituto melhor, científico, mais saúdável, da manteiga.

A manteiga mesma também não é exatamente o que historicamente se conheceu (e comeu) como manteiga. Pollan informa - e o livro tem muita muita informação, o que na maioria das vezes é bom - que os vegetais cultivados pelos métodos agronômicos modernos (com os fertilizantes normais) têm em média quatro vezes menos nutrientes que os orgânicos. Algo assim vale para a vaca, portanto para o leite etc.

Isso significa que a redução conceitual dos alimentos dá origem não só a falsos equivalentes industriais dos alimentos naturais, mas desnatura estes últimos: as próprias coisas são falsos equivalentes de si mesmas. A técnica de produção abstrai aí das relações das espécies com as outras e com o meio ambiente, sobretudo porque reduz o solo a um composto de substâncias e porque só cobiça que tudo cresça muito e rápido.

A ciência e a técnica não são neutras porque seus objetivos e efeitos não o são. No entanto, quando a ciência descobriu que a manteiga não era nociva e que a margarina era, isso não implicou em qualquer consequência prática - porque a ciência não se desculpa pelos seus erros, pela incompletude de suas teses, mesmo que coisas reais sejam feitas tomando-as como pressuposto. Como medir o dano à saúde pública causado pela margarina? Impossível, e portanto irrelevante tanto para cientistas quanto para a indústria.

Pollan não discute explicitamente a máquina de fazer dinheiro cujo apetite devora a comida e a saúde das pessoas, das outras espécies, do solo, nem discute como a indústria dos alimentos é uma parte apenas - importante, poderosa, mas parte - de um sistema econômico predador... mas é impossível não sentir sua sombra por toda parte.

Como conclusão prática, o que ele propõe explicitamente é desconfiar da ciência e afastar-se da indústria. E enfatiza que isso é viável porque já se formaram comunidades de pessoas que escolheram esse caminho e podem se apoiar.

Bom, é óbvio que nesse ponto a coisa fica em aberto. É óbvio que o capitalismo quer engolir tudo, e que portanto a advertência sombria contra o perigo de transformação da indústria orgânica em mais uma indústria é válida. Como é óbvio que nem todo mundo tem condições de entrar nessas comunidades, que a indústria de alimentos é ultra rica e poderosa, que as massas do planeta não têm escolha porque suas terras e sementes foram confiscadas pelo capital...

Então não vou escrever nenhuma frase de efeito pra terminar.