"Alvejante
Alvejante é um composto químico derivado de fontes naturais e
usado para alvejar (branquear) tecidos. Ele funciona pelo processo de oxidação,
ou alteração de um composto pela introdução de moléculas de oxigênio. Uma
mancha é essencialmente um composto químico, e a adição de alvejante quebra as
moléculas em elementos menores que assim se separam do tecido. Detergente e a
agitação da máquina de lavar aceleram o processo de limpeza. As propriedades
desinfetantes do alvejante funcionam da mesma maneira – os germes são quebrados
e neutralizados pela introdução do oxigênio. (...)
Alvejante
Embora os métodos de alvejamento antigos sejam
desconhecidos, os historiadores tem evidências de que civilizações antigas
deviam saber como alvejar tecidos. Tecido branco era produzido pelos antigos
egípcios, babilônios, fenícios e hebreus, como também pelos gregos e romanos. Já em 300 a.C soda
cáustica, preparada a partir de algas queimadas, era usada para limpar e
alvejar panos. Depois
das Cruzadas dos anos 1100 e 1200, a prática de alvejar tecidos se espalhou
pela Europa. Antigamente, as pessoas simplesmente estendiam o pano sobre o chão
ao ar livre e deixavam-no secar à luz do sol até que se tornasse branco, o que
podia levar semanas ou mesmo meses. Esse processo era chamado de crofting, por
causa da palavra escocesa para pequena campina (croft).
Durante
a Idade Média, os holandeses aperfeiçoaram o branqueamento de tecidos num
processo chamado crofting, no qual os tecidos eram espalhados em grandes campos
para serem maximamente expostos ao sol. Fábricas de tecidos distantes, como as
escocesas, mandavam seus produtos para serem alvejados na Holanda. A
prática se difundiu rapidamente pela Europa, e campos de alvejamento foram
documentados na Grã-Bretanha a partir de 1322. (...) perto de
Manchester. Na Escócio e Irlanda, algumas pessoas ainda alvejam seus tecidos
sobre a grama dessa maneira. Tecidos de alta qualidade secos sobre areas
gramadas ficaram conhecidos como "lawn" (gramado).
Por volta de 1700, tecelões holandeses, que tinham
aprimorado o processo de alvejamento, tornaram-se os líderes da indústria
europeia de alvejamento. Eles descobriram que o linho, que ainda era o tipo de
tecido mais comum, podia ser mais eficazmente alvejado se fosse primeiro imerso
em lixívia (uma solução alcalina concentrada de hidróxido de sódio ou
potássio). Depois que a lixívia era enxaguada, o linho era espalhado sobre o
chão como de costume. Depois de repetir esse processo algumas vezes, os
holandeses molhavam o linho com soro de leite coalhado ou leite azedo e então o
lavavam e secavam ao ar livre de novo. Embora houvesse negócios de alvejamento
de grande porte fora da Holanda os holandeses gozavam de um quase monopólio do
alvejamento de linho durante o século XVIII. Tecido produzido pelo método
holandês era chamado tecido holanda
(holland). No entanto, esse processo era problemático pois podia levar
vários meses, especialmente em países ao norte, com pouca luz solar. Além
disso, usava grandes areas de espaço valioso.
Em 1728 uma empresa de alvejamento que usava métodos holandeses
começou a operar em Galloway, na Escócia. Nesse processo, o tecido era imerso
em lixívia vários dias e então "bucked", enxaguado. Os tecidos eram
então estendidos sobre a grama durante semanas. Esse processo era repetido
cinco ou seis vezes até que a brancura desejada fosse atingida. Em seguida, o
tecido era tratado com leite azedo ou leite gorduroso (buttermilk), novamente
enxaguado e estendido. Esse método era lento e tedioso e ocupava grandes
porções de terra que poderiam ser usadas para a agricultura.
Em 1756 cientistas descobriram que ácido sulfúrico diluído
funcionava melhor que soro coalhado e o tempo necessário para o alvejamento
diminuiu bastante. Um melhoramente ainda mais dramático na tecnologia de alvejamento
resultou da descoberta do cloro, em 1774, um gás verde amarelado altamente irritante, pelo químico
suíço Karl Wilhelm Scheele (1742-1786). Em 1785,
o químico francês Claude Louir Berthollet (1748-1822) descobriu que esse
gás é um agente alvejante muito eficaz; Algumas manufaturas tentaram expor seus tecidos ao gás cloro,
mas o processo era tão trabalhoso, e os gases tão fortes, que essas tentativas
logo foram abandonadas.
Berthollet, que era diretor de um fábrica de tapetes
francesa, desenvolveu um método usando cloro para alvejar tecidos. Perto de Paris, na
cidade de Javel, Berthollet montou uma pequena estrutura para a produção de um
novo produto chamado "Água de Javelle". O pó alvejante consistia de
soda cáustica que tinha absorvido gás cloro. Em 1785 ele lançou um
líquido chamado lixívia de Javelle e deu publicidade à sua técnica sem
patenteá-la. Quando James Watt soube do método, ele passou a informação ao
químico escocês e fabricante Charles Tennant, que começou a usar o líquido
alvejante em Glasgow. Mas o gás cloro necessário ao processo de alvejamento
líquido não era prontamente encontrável, então Tennant inventou um pó alvejante
mais conveniente e o lançou em 1799. O pó sólido, que era feito combinando
cloro com cal hidratada (hidróxido de cálcio), era muito mais fácil de manusear
e enviar para outros fabricantes de tecido. Quando adicionado a um ácido pouco
diluído, o pó libera o gás cloro que alveja tecidos muito rapidamente. Por
volta da década de 1830 as fábricas estavam produzindo grandes quantidades de
pó alvejante para uso em tecidos. Essa oferta abundante de alvejante de cloro
ajudou a estimular a indústria do algodão.
Nos primeiros anos da Revolução Industrial, seu pó de cal
patenteado era amplamente usado para branquear uma série de tecidos e produtos
de papel. Para fazer o pó alvejante, cal hidratada (cal tratada com água) era
espalhada numa camada fina sobre o chão de concreto ou chumbo de um cômodo
amplo. Gás cloro era bombeado para dentro do cômodo para ser absorvido pela
cal. Apesar de ser um branqueador eficaz, o pó era quimicamente instável. Era
usado comumente até a primeira guerra mundial, quando soluções de cloro líquido
e de hipoclorito de sódio – os precursores do alvejante doméstico moderno –
foram introduzidos. Por volta dessa época pesquisadores descobriram que passar
uma corrente elétrica em água salgada quebra as moléculas de sal (cloreto de
sódio) e produz um composto chamado hipoclorito de sódio. Essa descoberta
permitiu a produção em massa do hipoclorito de sódio ou cloro, o alvejante.
A partir daqui o artigo trata de outros alvejantes
(peróxido, perboratos), que não tem interesse (para mim, aqui). Mas há um
trecho que tem bastante interesse (outro): "outras indústrias que usam
largamente a tecnologia de alvejamento incluem a indústria de farinha, que usa
compostos de cloro para alvejar mais de 80% de toda farinha de trigo produzida
nos Estados Unidos..."
As matérias-primas para fazer o alvejante doméstico são cloro,
soda cáustica e água. O cloro e a soda são produzidos pela aplicação de uma
corrente elétrica direta numa solução de cloreto de sódio, um processo chamado
eletrólise. o cloreto de sódio, sal de cozinha comum, vem de minas ou de poços
subterrâneos. O sal é dissolvido em água quente para formar uma solução que é
então tratada para remoção de impurezas antes de reagir na célula eletrolítica.
Tipos de alvejante
(...)
As propriedades desinfetantes do alvejante de cloro também podem
ser usadas fora da lavanderia. O alvejante de cloro desinfeta a água para beber
onde tenha havido contaminação subterrânea, já que é um poderoso germicida. Foi
usado pela primeira vez para sanitizar a água, tornando-a potável, no
reservatório Croton de Nova Iorque em 1895, e está aprovada pelo governo para
desinfecção de equipamentos na indústria alimentícia. Nos últimos anos, o cloro
foi promovido por ativistas de saúde comunitária como um método barato de
desinfetar agulhas para usuários de drogas intravenosas.
(...)
Processo de fabricação
A fabricação de alvejante de hipoclorito de sódio requer vários
passos. Todos podem ser realizados numa única instalação grande ou o cloro e a
soda podem ser transportados de outras fábricas para o local do reator. Ambos
cloro e soda cáustica são químicos perigosos e são transportados de acordo com
regulamentos rigorosos.
Preparação dos componentes
- a soda cáustica é normalmente produzida e transportada como
uma solução concentrada a 50%. Chegando ao destino, essa solução concentrada é
diluída em água para formar uma nova solução, a 25%.
- quando a água dilui a solução forte de soda cáustica,
libera-se calor. A soda cáustica diluída é resfriada antes de ser reagida.
A reação química
- cloro e a solução de soda cáustica reagem para formar o
alvejante de hipoclorito de sódio. Essa reação pode acontecer em reservatórios
de aproxidamente 14.000 galões ou num reator contínuo. Para criar o hipoclorito
de sódio, cloro líquido ou gasoso é posto para circular através da solução de
soda cáustica. A reação do cloro e da soda cáustica é essencialmente
instantânea.
Resfriamento e purificação
- a solução alvejante é então resfriada para evitar decomposição
- esse alvejante resfriado é sempre decantado ou filtrado para
remover impurezas que podem descolori-lo ou catalizar sua decomposição
Transporte
- a solução pronta de hipoclorito de sódio é enviada para uma
fábrica de engarrafamento ou engarrafada no próprio local de produção. O
alvejante doméstico tem uma concentração típica de 5.25% de hipoclorito de
sódio em solução aquosa.
Controle de qualidade
Na fábrica de alvejante, a solução de hipoclorito de sódio
obtida passa por uma série de filtros para extração de quaisquer impurezas
remanescentes. Também são realizados testes para que se tenha certeza de que
ela contém exatamente 5.25% de hipoclorito de sódio. A segurança é um tópico
central nas fábricas por causa da presença de gás de cloro, volátil. Quando o
cloro é produzido fora da fábrica onde vai reagir, é transportado na forma
líquida em vagões-tanque especiais com paredes duplas, que não se rompem, mesmo
que haja um descarrilamento. Quando chega à fábrica, o cloro líquido é bombeado
dos carros-tanque para "cofres". Como medida de segurança, os
carros-tanques têm válvulas de fechamento que operam em conjunto com um sistema
de detecção de cloro. Se houver um vazamento de cloro, o sistema de detecção
ativa um dispositivo no tanque que pára automaticamente a transmissão do
líquido em 30 segundos.
Na fábrica, os cofres de cloro ficam numa área fechada chamada
carro-celeiro. Esse cômodo fechado está equipado com limpadores de ar para
eliminar qualquer gás cloro que escape, pois ele é danoso aos seres humanos e o
ambiente. O limpador se parece com um aspirador de pó e aspira qualquer gás
cloro da área fechada, injetando-o em soda cáustica. Ele se transforma em
alvejante, que é incorporado ao processo de fabricação. A despeito dessas
precauções, simulações de segurança e incêndio são regularmente agendadas para
os trabalhadores das fábricas.
(...)
Segurança dos consumidores
A indústria de alvejantes ficou sob suspeita durante os anos
1970 quando o público passou a se preocupar com os efeitos dos químicos
domésticos sobre a saúde. A dioxina, um subproduto da indústria química, é
frequentemente encontrada em produtos industriais usados para alvejar papel e
madeira. Na forma final, envasada, o alvejante comum de hipoclorito de sódio
não contém dioxinas, porque o cloro precisa estar em estado gasoso para que as
dioxinas existam. No entanto, o gás cloro pode se formar quando o alvejante
entra em contato com ácidos, um ingrediente presente em alguns produtos de
limpeza para vasos sanitários, e as instruções nas embalagens de alvejante
doméstico contêm alertas específicos contra essa combinação.
Além do perigo das dioxinas, os consumidores também se preocupam
com a toxicidade do cloro no alvejante de hipoclorito de sódio. Contudo, o
processo de lavagem desativa o cloro potencialmente tóxico e leva à formação de
água salgada. Depois do enxágue a água entra no sistema de esgoto pelo cano de
escoamente e as estações municipais de limpeza da água removem os traços
restantes do cloro."
Sobre o último tópico, alguém que se identifica como
"rich" e que diz ter treinamento de segurança como trabalhador de uma
estação de tratamento de água, comenta:"Em climas quentes como o meu, o
hipoclorito de sódio em concentrações de 2.5 a 12% reage decompondo-se (o que
se chama off-gassing), passando então à forma gasosa". Talvez por isso no
Brasil a água sanitária tenha concentração máxima de 2.5% de hipoclorito de
sódio.
Os trechos em azul foram
traduzidos daqui:
http://www.madehow.com/Volume-2/Bleach.html.
A autora, pelo que se entende, é Carol Brennan. Há ainda a seguinte observação: A
seção sobre o processo de fabricação deste tópico foi escrita com ajuda da
Clorox Company.
Os trechos em preto
foram traduzidos daqui: