Monday, November 21, 2011

Um parto é um parto 2

A cesárea em si foi quase indolor. O que mais doeu foi quando a enfermeira pegou o acesso: aquela "tomadinha" de plástico que fica numa veia da mão, onde eles põe toda a medicação. É uma picada pouco mais dolorida que a de tirar sangue para exames e o troço fica doído uma meia hora. A anestesia são outras duas picadas, uma superficial e ardida - como uma picada de mutuca - e outra mais funda, outro tipo de dor, mais inquietante, mas pouco intensa e bem breve.

A operação durou 45 minutos, talvez um pouco mais. Vi as coisas mais ou menos, pelo reflexo naquele "lustre" que fica logo acima da gente, minha barriga aberta, o bebê saindo de dentro dela. Foi meio fascinante e meio aterrador me ver assim. Também é estranha a sensação das pernas - antes, a ausência total de sensação e resposta - depois. E fiquei muito muito ansiosa para que elas "voltassem".

Bom, mas dor de verdade, desconforto de verdade, esses vêm depois.

A sensação mais intensa de dor para mim foi a do momento em que, no dia seguinte à cesárea, levantei da cama pela primeira vez para tomar banho. Como disse uma cunhada, é como se a gente estivesse caindo para dentro. Os órgãos parecem soltos, o que é extremamente desconfortável, e tem a dor mesmo. No hospital eles te levantam para dar banho, de manhã, no dia seguinte. Nesse dia o médico me orientou a dar pequenas caminhadas a cada x horas.

O que eu pensei, depois, foi que seria melhor levantar pela primeira vez com uma faixa (eles fazem uma cinta de bandagem, mas só depois) e receber um banho de paninho ao invés de um banho de chuveiro. Também o médico teria de explicar que as caminhadas são para prevenir trombose, uma coisa muito grave, que pode matar, a que pessoas recém-operadas estão sujeitas se não se movimentam. Com tanta dor e desconforto para ficar de pé, a tendência é que a pessoa negligencie as caminhadas.

A comida também foi um problema. A cozinha do hospital - um hospital bem conceituado - mandava café da manhã, lanche, almoço, lanche. Fora do almoço não havia fibras na dieta, o que não ajuda o intestino a voltar a funcionar. Além disso, o último lanche era servido às 6h e o café só vinha 7h ou 7h30 do dia seguinte. Quando começaram a me dar antiinflamatório, meu estômago doeu pacas e não tinha o que comer. Passei a segunda noite muito mal, até pedir ao plantonista para suspender um dos antiinflamatórios e me dar omeprazol com o outro. Fiquei com receio do antiinflamatório suspenso fazer falta, mas a dor de estômago estava insuportável.

Finalmente, tem a cinta. O inchaço e a sensação de que os órgãos estão soltos persiste, menos intensa que na primeira vez, mas, pelo menos para mim, é fundamental usar algo para segurar a barriga. No hospital, como eu disse, eles faziam uma cinta de bandagem, mas foi só por sorte que arrumei uma cinta de verdade emprestada para quando saí. Muito prudente comprar uma com antecedência - porque, acredite, ninguém quer ir comprar essas coisas, não tão fáceis de achar, recém-operada e com um bebezinho em casa.

Experimentei uma mais barata, que parece um elástico grosso enorme e não recomendo. Ela não se adapta à forma do corpo, e quando a gente senta fica parecendo um sorvete dentro da casquinha, super desconfortável. Boas acho aquelas de tecido elástico, com fechamento de colchetes.

Depois de uns dias, não muitos, uns quatro ou cinco, acho, comecei a inchar. Não tinha tido praticamente nenhum inchaço durante a gravidez, eis que fiquei super inchada. Meu médico disse que era por causa da cesárea e da ocitocina da amamentação. É um inchaço realmente diferente, que não melhora quase nada se a gente deita ou se anda e piora quando se dá de mamar. Durou coisa de uma semana, talvez um pouco mais, e passou de um jeito bem esquisito. Meu corpo foi desinchando de cima pra baixo, como se alguém estivesse bebendo o líquido com um canudinho. Nos últimos dias, dava pra ver direitinho onde terminava a parte normal da perna e onde começava a parte inchada, como se estivesse vestindo uma bota de líquido sob a pele.

Esse mesmo inchaço favorece a ingurgitação da mama. Mas falo sobre amamentação noutro post.

Pra concluir: cesárea é indolor, o pós dela é que é doloroso e incômodo. Não sei como é o pós parto normal, mas diz minha sogra, que fez os dois tipos de parto, que o normal a dor toda a gente sente na hora, cesárea sente toda depois.

O bom é que o pior do pós da cesárea coincide com os primeiros dias do bebê, que são mais calmos porque ele dorme muito, e bem motivantes, porque a gente está louca para curti-lo. Também é bom sentir, apesar de tudo, a mobilidade retornando pouco a pouco a níveis pré-fim-de-gravidez.

Finalmente, tem o fragilidade psíquica que, dizem, acompanha todo tipo de parto. Não sei se era porque esse é meu primeiro filho, mas toda aquela dor, mais a ansiedade com o aprendizado dos cuidados, que acontece nessas condições desfavoráveis, a mudança do regime hormonal para o da amamentação, etc. etc., tudo isso me deixou super chorona. Depois vai passando.

É preciso descansar bastante e poupar-se, ainda que a gente se sinta bem. A energia faz falta depois, quando o bebê começar a dar mais trabalho. É bom estar entre gente com quem a gente se sinta protegida. É fundamental cuidar-se.

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