Friday, December 16, 2011

Adeus, lelé

Quando meu filho chora de fome, choro aberto, pra valer, o que eu ouço é lé, lé, ulé... No começo a gente brincava que ele estava pedindo filé. Depois começamos a chamar a mamada de lelé. "Já vou te dar o lelé." Ultimamente brincava que ele já falava pelo menos uma palavra, em francês: lait!

Exaurida pela dor no peito, pelas noites sem dormir e sei lá eu mais por que, comecei a me sentir extremamente ansiosa, a ponto de não conseguir mais ter um contato feliz com a criança - nem com ninguém - e de não conseguir mais dormir. Daí comecei um remédio para "baixar a bola" que não é seguro que não passe para o leite.

Há uma semana tomei a primeira dose do remédio para cortar a lactação (Dostinex, cabergolina). É preciso parar de amamentar imediatamente, passei os dois primeiros dias de cama, por causa da dor, tirando leite do peito, tentando não tirar, tomando analgésico. Tive de repetir a dose em 24 horas, e daí foi diminuindo, o leite e a dor. Assim que não tive mais caroços - que são bolsas de leite preso, que pode virar meio de infecção (outra mastite, não) - comecei a enfaixar as mamas. Não aguentei fazer muitas compressas frias, porque está frio já aqui, e eu estou magra. A mama direita ainda goteja um pouco, mas acho que não está produzindo quase nada mais.

Tenho certeza de que a dor contínua nas mamas foi um dos principais fatores a me esgotar. Recomendo muito, mas muito mesmo, que as futuras mães leiam sobre amamentação e procurem ajuda para começar o processo, na verdade um acompanhamento até estabilizar. Eu não tinha a mais vaga ideia de que amamentar podia ser tão difícil, acho que pouca gente tem. Mas os problemas de amamentação são muito comuns - produz-se mais ou menos do que o bebê mama, e quem produz mais precisa enfrentar a dor das mamas cheias, pode infeccionar... Se o bebê não pega direito, não vai conseguir sugar bem, machuca o bico, ele não ganha peso...

Aqui em Belo Horizonte, a maternidade Odete Valadares tem um banco de leite com enfermeiras especializadas que me ajudaram muito. Gostaria de ter procurado essa ajuda antes, quem sabe as coisas teriam podido ser diferentes.


Dói ver o bebê com o intestino preso, lutando para digerir o leite industrializado. Mas tenho esperança de que ele tenha perdido o lelé para recuperar a mãe.




Saturday, December 3, 2011

A maratona do leite

Essas duas mulheres são a mesma. 


Os bebês realmente fazem gestos durante a amamentação. Claro que não o de consultar um livro, mas fazem. Parecem apontar, certamente procuram agarrar e apertar a mama, põem a mão na testa, como se pensassem, apoiam a cabeça, como se estivessem na praia... É bonito. E tem o milagre natural do corpo produzir um alimento perfeito para a criança.


Mas os milagres naturais não são precisos. Mastite. Uma retenção de leite que infecciona. Dez dias de antibiótico, duas semanas de muita dor, visitas ao hospital, orientações contraditórias. Na cabeça, a defesa do aleitamento materno: menos infecções, menos alergias, mais imunidade. Tem gente que diz que criança amamentada ao peito é até mais inteligente... No corpo, a dor, a vontade de chorar, de desistir. Mas não dá pra desistir enquanto o peito está infeccionado, e depois que a infecção regrediu, cresceu a coragem para não parar.

Primeiro, muito sono. Agora, insônia. Não está ao alcance do poder da vontade acalmar-se nessas circunstâncias.

Procurando aqui nem a glória nem chegar tão perto do limite.